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Scot Consultoria

O boi só que sobe: mercado favorável aos fornecedores


Quarta-feira, 9 de abril de 2008 - 09h24

É safra, o câmbio segue frouxo e a União Européia, na prática, mantém o embargo à carne bovina brasileira. Ainda assim, o boi só que sobe. Isso porque os fundamentos que sustentam a valorização da arroba são bastante sólidos: demanda aquecida por carne bovina em nível mundial, expansão das indústrias frigoríficas (intensificando a concorrência pelo boi), problemas de produção e comercialização que acometem alguns importantes fornecedores/concorrentes (como é o caso da Argentina) e, principalmente, redução de oferta. Os abates estão em baixa. Os frigoríficos, pulando dias de abate, reduzindo turnos e com capacidade ociosa acima de 30% não conseguem esticar as escalas para mais de quatro dias. O ambiente favorece a valorização da arroba, mas o fenômeno se arrasta para o elo seguinte. Além do repasse dos custos, os aumentos de preço e a escassez de animais terminados aqueceram o mercado de carne com osso. Se não tem boi, ou o boi está com a cotação elevada, o negócio é comprar carcaça e desossar. Tal situação produziu um quadro interessante. O boi e a carne com osso passaram a valer mais do que a carne desossada, como ilustra a figura 1. Veja que o mercado varejista mantém uma margem comparativa (preço de compra x preço de venda) interessante, mas ela começou a ceder. No início deste mês, por exemplo, ficou em 62% na comparação com o atacado cortes, frente a 70% da média de março. O ganho do varejo pode mesmo começar a se retrair, pois chega um momento em que não é mais possível repassar integralmente, para os consumidores, os aumentos dos preços no atacado. É fato que tem havido crescimento do emprego e melhoria de renda. Porém, no último ano, enquanto a cotação do boi casado reagiu 25%, o salário mínimo, por exemplo, aumentou 9%. Vamos analisar o comportamento dos preços de outra forma. Veja, na figura 2, a evolução dos preços médios mensais da arroba boi gordo, da carne com osso no atacado (traseiro bovino), da carne bovina sem osso no atacado (média ponderada dos cortes de traseiro), da carne bovina no varejo (média ponderada dos cortes de traseiro) e da carne bovina exportada (in natura + industrializada), tudo com base em moeda nacional (R$), referente ao mercado de São Paulo (que é a praça balizadora). Entre fevereiro de 2007 e fevereiro de 2008, em reais, a valorização da arroba do boi gordo foi de 36%, da carne com osso foi de 23%, da carne sem osso foi de 18%, da carne no varejo foi de 22% e da carne exportada foi de 31%. Veja que os preços dos produtos de menor valor agregado – notadamente o boi gordo - têm reagido em ritmo superior aos preços dos produtos de maior valor agregado. E vale destacar que o reajuste de 31% registrado para a carne exportada se deve, sobretudo, à forte valorização do produto ocorrida entre janeiro e fevereiro, algo em torno de 17%. Veja no gráfico que se trata de um movimento fora da curva, resultado do significativo aumento das vendas e dos preços em função das perspectivas de limitação dos embarques a partir de março (o que, realmente, veio a se confirmar). Com a perda de um cliente importante, e que paga bem (União Européia), o preço médio da carne exportada deve cair um pouco. Números preliminares de março apontam para esse comportamento. O mercado, atualmente, favorece os fornecedores. Especificamente as margens das grandes indústrias, que trabalham com carne desossada e exportação, estão em baixa. Entre 2002 e 2006, o cenário era o inverso. Naquele período, o produtor “pulou miudinho”. Os mais eficientes, que haviam investido em tecnologia e gestão, se saíram bem (dentro do possível), apesar da redução das margens. Aqueles que não se prepararam para a crise, amargaram prejuízos. Agora é a indústria que foi colocada à prova. E o raciocínio é o mesmo.
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