• Sexta-feira, 29 de março de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Como teria que se comportar o boi na safra?


Sexta-feira, 16 de maio de 2008 - 10h29

É normal o boi subir de janeiro a maio? Essa pergunta nos foi feita, várias vezes, ao longo dos últimos dias. Isso porque a carne já vem sendo considera um dos vilões da inflação. O consumidor está pagando mais caro pelo produto porque, lá no campo, o boi está em alta. Mas isso não deveria acontecer nesse período, certo? Errado. De vez em quando, pelo menos em termos nominais, isso acontece. Não é algo muito freqüente, mas também não se trata de uma raridade. O difícil é o boi, ao longo da safra, se valorizar em termos reais, ou seja, superar a inflação. Veja a tabela 1. São Paulo é a praça referência para o mercado do boi gordo no Brasil. O que acontece no Estado tende a se repetir na maior parte das regiões pecuárias. Podemos, portanto, extrapolar o raciocínio para o restante do país. Observe que, de 1995 para cá, ou seja, desde o início do Plano Real, o aumento dos preços do boi gordo, entre janeiro e maio, só superou a inflação em três períodos: 1997, 2007 e 2008. O que eles têm em comum? Acompanhe, na figura 1, a variação das cotações da arroba do boi gordo em São Paulo, em reais corrigidos pelo IGP-DI. Tem-se aí o final do penúltimo ciclo pecuário (1995 a meados de 1996), o último ciclo inteirinho (meados de 1996 a meados de 2006) e o começo do ciclo atual (meados de 2006 até agora). Analisando em conjunto o gráfico e a tabela, dá para concluir que, para o boi se valorizar na safra, em termos reais, é necessário que algo “diferente” ou “maior” esteja influenciando o mercado. No caso, uma significativa retração das ofertas, ou seja, um forte ajuste produtivo, em função do comportamento do ciclo pecuário. Em períodos de crise, o produtor reduz investimentos e abate matrizes. No médio/longo prazo, o mercado fica enxuto, dando suporte à recuperação dos preços. Essa recuperação começa na reposição, o que faz com que os produtores passem a reter matrizes. E tal atitude, ao menos num primeiro momento, diminui ainda mais a oferta de gado no mercado. Tem-se aí o ambiente propício à valorização da arroba na safra. Este ano é preciso considerar também que a demanda por carne bovina está bastante aquecida, tanto dentro quanto fora do Brasil, graças ao bom ritmo do crescimento da economia mundial. Além do mais, as grandes indústrias, capitalizadas, investiram muito em aumento da capacidade de abate, o que intensificou a disputa por matéria-prima. Veja bem. O boi está em alta, na safra, em período de vacinação, com queda de temperatura, dólar em baixa e embargo da União Européia. Todos fatores baixistas. É óbvio, portanto, que se trata de um movimento atípico. Em síntese, para quem gosta de analisar mercado, fazer projeções, operar em Bolsa, ou as três coisas juntas, seguem observações relevantes: 1. Em termos nominais, nem sempre o mês de maio é o “vale de safra” (aqui um adendo, eu não gosto do termo “pico de safra”. Afinal, pico nos faz lembrar algo que está lá em cima, e não lá embaixo). Entre 1995 e 2008, as cotações do boi gordo subiram sete vezes, entre janeiro e maio: 1997, 1999, 2001, 2003, 2004, 2007 e 2008; 2. Nessas ocasiões, houve apenas três aumentos reais: 1997, 2007 e 2008. É raro o boi se valorizar, acima da inflação, no decorrer da safra. Mas isso pode ocorrer em fases de alta do ciclo pecuário. Portanto, não aposte cegamente na “desova” de maio, ou no “vale de safra” em maio, nesses períodos. Antes, analise o comportamento do ciclo. Vale lembrar que o mercado é extremamente dinâmico e fatores de ordem econômica, política e/ou sanitária podem influenciar o comportamento dos preços. E aí as regras/observações históricas vão para o “beleléu”.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja