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Scot Consultoria

Boi de US$22,00/@ a US$25,00/@... nunca mais??


Segunda-feira, 26 de maio de 2008 - 20h20

Essa questão do boi em dólares já foi esmiuçada de tudo quanto é jeito. Aliás, na edição 59 da Carta Boi, publicada em novembro de 2007, escrevi: “repito algo que já foi publicado nesse espaço à exaustão. A referência para o boi gordo em São Paulo, entre US$22,00/@ e US$25,00/@, se perdeu por completo. A realidade agora é arroba entre US$38,00 e US$45,00.” Longe de querer ser repetitivo, retomo o tema por três motivos. Primeiro, porque fomos criticados por fazer tal afirmação. Afinal, o câmbio oscila demais, o que pode levar a variações bastante significativas na cotação da arroba em dólares. Segundo, porque a cotação do boi gordo em São Paulo está rompendo os US$50,00/@. Terceiro, porque a mídia publicou recentemente várias declarações de executivos de frigoríficos, consultores e demais profissionais ligados à cadeia produtiva da carne bovina, justamente afirmando que o boi barato, próximo de US$20,00/@, não volta nunca mais. “Nunca diga nunca”, minha mãe já dizia. Portanto, pode ser realmente que eu tenha pegado um pouco pesado quando afirmei que a referência de US$22,00/@ a US$25,00/@ se perdeu por completo. Mas reafirmo que é no mínimo bastante improvável que as cotações retornem, algum dia, a esse patamar. Basta um pouco de observação e de matemática para chegar a essa conclusão. Acompanhe, na figura 1, a evolução das cotações da arroba do boi gordo em São Paulo, em dólares, de 1970 para cá. Veja que a tendência claramente é de alta. Ocorrem oscilações (seriam ciclos?), é verdade. Porém, no longo prazo, a arroba em dólares tende sempre a buscar patamares mais altos. É óbvio isso, afinal, com o passar dos anos, os preços nominais de qualquer produto tendem mesmo a subir. Seria preciso uma desvalorização muito forte e contínua da moeda nacional para fazer a curva se comportar de outra forma. Portanto, por observação pura e simples, sou tentado a acreditar que dificilmente o boi vai voltar a US$20,00/@, que é justamente o início da fase de alta do “ciclo” atual dos preços em dólares. Agora a matemática, com um pouco de história. Acompanhe, na tabela 1 a evolução dos preços médios anuais do boi gordo em São Paulo, em termos nominais. Veja que muito dificilmente as cotações médias do boi gordo registram recuos nominais de um ano para o outro. Isso ocorre apenas em períodos de forte pressão...... baixista. Entre 1995 e 1996, por exemplo, foi o final da fase de baixa do penúltimo ciclo pecuário. Entre 2005 e 2006 também foi final de fase de baixa de um ciclo (o último), sendo que houve o impacto negativo dos focos de febre aftosa do MS e do PR, problemas com exportação de frango (que levou ao aumento da oferta no mercado doméstico, retração dos preços e disputa pelos consumidores de carne bovina), etc. Agora dê uma olhada na figura 2. São os preços do boi gordo em R$/@, corrigidos pelo IGP-DI. Dá para ver, claramente, o final do penúltimo ciclo pecuário, o último ciclo inteirinho, e o início do atual (delimitados pelas linhas verdes). Acompanhe o raciocínio, analisando em conjunto a tabela 1 e a figura 2. O ciclo atual iniciou-se em meados de 2006, ou seja, até agora se passaram apenas dois anos. A fase é de alta e, historicamente, tem-se entre 3 e 5 anos de alta, seguidos de 3 a 5 anos de baixa, para fechar um ciclo. Conclusão, podemos contar (em condições normais) com pelo menos mais 2 anos de alta. O boi em SP, em 2008, caminha seguramente para fechar o ano com preço médio acima de R$80,00/@. E aí teremos pelo menos mais dois anos de valorização real até ele poder registrar a primeira desvalorização nominal. Quem não se perdeu no raciocínio, e concordou com ele, já está pensando: “Então, de agora em diante, é quase certo que nunca mais registraremos um preço médio anual inferior a R$80,00/@, certo?” – Certo! É isso aí. Então, se o boi é de R$80,00/@ para cima, o câmbio teria que superar os R$5,00 por US$1,00 para voltarmos a ter um boi de US$20,00/@. Em outras palavras, o dólar teria que reagir mais de 200% em relação à sua cotação atual. É por isso que dá para afirmar que o boi em dólares pode sim oscilar bastante, para cima ou para baixo, pois o câmbio, afinal de contas, é flutuante. Mas a arroba muito dificilmente voltará à casa dos US$20,00. Só uma crise econômica muito severa para promover a necessária desvalorização do real que daria suporte a esse quadro. Mas e aí, dá para ser competitivo, internacionalmente, com arroba acima de US$50,00/@? Realmente quando a gente observa que as cotações dos principais concorrentes – Argentina, Uruguai e Austrália - estão abaixo dos US$40,00/@, pinta um certo desconforto. De toda forma, dá para ser competitivo sim. Assunto para uma próxima análise.
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