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Scot Consultoria

Até onde pode ir o desfrute do rebanho sem comprometer a sua perenidade


Segunda-feira, 11 de agosto de 2008 - 15h16

Análises e comentários sobre a questão do abate de fêmeas no Brasil e o impacto desse fenômeno na pecuária nacional têm sido recorrentes. Os resultados da crise de preços que acometeu a pecuária entre 2002 e 2006, marcada pelo abate de matrizes e redução de investimentos, podem ser sentidos hoje através da falta e, conseqüentemente, valorização do bezerro. As fêmeas abatidas nos últimos anos deixaram de produzir bezerros que estariam sendo utilizados como animais de reposição e engorda. Para se ter idéia, em 2005 (fase de baixa do mercado) comprava-se um bezerro sobreano a uma média de R$415,00 em São Paulo, hoje compra-se o mesmo animal por R$750,00, uma alta de quase 80%. Acompanhe a evolução dos preços na figura 1. A Scot Consultoria avaliou os efeitos do abate de fêmeas, ocorrido nos últimos anos, sobre a evolução do rebanho brasileiro. Neste estudo foram simuladas situações baseadas num rebanho de bovinos estável, utilizando dados produtivos (índices zootécnicos) extraídos da realidade da pecuária nacional. Foi utilizado como base o rebanho brasileiro de 2007, com 201 milhões de cabeças bovinas, incluindo animais de corte e leite. Este rebanho foi então estratificado em categorias compostas por touros, vacas de cria, novilhas – reposição e engorda – bois, garrotes, bezerros sobreano (machos e fêmeas) e desmama, gerando uma estimativa da percentagem ocupada por cada categoria. Para os cálculos produtivos foram consideradas taxas de natalidade da ordem de 67%, desfrute do rebanho de 22,56%, mortalidade até a desmama de 6,57% e mortalidade adulta de 2%. Este último índice foi considerado tanto para machos quanto para fêmeas, incluindo animais de aptidão leiteira. Para cada um dos índices mencionados, foi considerada uma melhoria produtiva a cada ano, para que assim pudéssemos projetar estes valores para os anos seguintes. Além disso, foram consideradas taxas de descarte da ordem de 20% para touros e vacas e uma relação touro/vaca igual a 30. As idades à primeira cria e ao abate (para ambos os sexos) foram de 40 meses. Calculou-se então as mortalidades do rebanho, tanto pela mortalidade propriamente dita, quanto pelo abate dos animais. A partir disso, foram estimados os valores referentes ao abate de fêmeas incluindo vacas descarte e novilhas de engorda. O abate de machos foi composto por bois, garrotes e touros de descarte. De posse desses valores, conseguiu-se obter a proporção máxima de abate de fêmeas e machos para a manutenção de um rebanho estável. Chegamos então ao alvo do nosso estudo, obtendo um patamar de 42% de abate de fêmeas ao ano, considerando todas as categorias, para que o rebanho permaneça estável. Esta foi a base para as projeções de abates de fêmeas nos anos seguintes. As estimativas realizadas pela Scot Consultoria simularam o aumento/retração do rebanho desde 2007 até 2020, considerando um abate de fêmeas de 47%, supondo ser este o valor próximo à realidade brasileira atual. Acompanhe na figura 2. Analisando a figura 2, é possível verificar que, caso o abate de matrizes se mantenha em 47% do total do abate, haveria uma forte redução conjunta do rebanho total e do número de fêmeas adultas, chegando ao ponto de, em 2017, dizimação das fêmeas. Essa seria a conseqüência do abate excessivo de matrizes, com falta de bezerras e novilhas para reposição. Com esta taxa de abate, a redução do rebanho seria de 3% a 3,7% entre os anos de 2008 e 2009, acumulando queda de quase 46% até 2020. Dando continuidade a esta linha de pensamento, a redução da produção de bezerros em 2008, na comparação com 2007, seria de 4,7%, ou seja, 137.168 animais deixariam de ser produzidos, ocasionando um aumento dos preços desta categoria. Esta baixa oferta de bezerros no mercado parece ser, realmente, o cenário vivido pela pecuária brasileira nos últimos anos. A série histórica dos abates de bois e vacas divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela um aumento do abate de vacas, quando comparado aos abates de bois. Veja na figura 3. Observa-se, no gráfico, um aumento nos abates de vacas a partir de 2002, mais ou menos no início da fase de baixa dos preços do ciclo pecuário. A participação dos abates formais de vacas em relação aos abates formais totais partiu de 22,7% em 2002 para 39,3% no primeiro trimestre de 2008 (último número do IBGE). Em 2007, o abate formal total de bovinos aumentou 67% em relação a 2001. E a participação das vacas chegou a 34,5%, com crescimento de 153% no número de cabeças abatidas quando comparados aos dados de 2001. Efetuando-se uma comparação, ano a ano, do aumento relativo do abate de vacas, encontraremos que a variação entre os anos de 2002 e 2003 foi a maior observada desde 1998. Observe a figura 4. O ritmo do aumento do abate de vacas começou a diminuir de 2003 para 2004, apesar de, em 2005, ainda ser maior que os abates de bois. Daí em diante iniciou-se a retração. Primeiro, em função da própria liquidação dos plantéis (o volume de fêmeas disponíveis para abate diminui). Depois, principalmente a partir de 2007, por conta da valorização do bezerro. Pelas estatísticas do IBGE, em 2007, o abate de vacas, sem contar as novilhas, ocupava 40% do abate total. No entanto, pelos levantamentos realizados pela Scot Consultoria, neste ano de 2008, os abates de fêmeas, e não somente vacas, têm se situado ao redor 30% dos abates totais do país. Apesar de já estar havendo retenção, a participação das fêmeas, em relação ao total abatido, ainda mantém-se em nível relativamente elevado, principalmente se comparada aos anos de 2001 e 2002 (antes do início dos descartes). A taxa de abate de vacas foi reduzida, de 2007 para 2008, praticamente na mesma proporção que o abate de bois, cerca de 10%. Desta maneira, se considerarmos que houve uma queda de 10% nos abates de vacas entre 2007/2008 e que estas já tenham sido inclusas na última estação de monta, teremos disponibilidade de 10% mais bezerros nos próximos anos. Este pode ser o indício de uma fase de acomodação do ciclo pecuário onde a corrida desenfreada por animais de reposição pode se tornar mais amena. O reflexo disto seria o início de reposição de fêmeas no rebanho, maior disponibilidade de animais para recria, engorda a pasto e confinamentos e, por conseqüência, redução dos preços da arroba, nos próximos anos, devido a maior disponibilidade de boi gordo no mercado. Comparando o Brasil a outros países como Estados Unidos e Uruguai, que possuem altas taxas de abate de fêmeas/ano, encontraremos que cerca de 47% e 45% do abate total é de fêmeas. A partir destas referências podemos considerar que o valor brasileiro estimado (47%) seja também elevado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o abate de fêmeas engloba novilhas, vacas de leite e outras classes como vacas descarte, sendo a maior parte (30%) ocupada pelas novilhas. Já no Uruguai, a maior parte do abate de fêmeas é ocupada pela categoria de vacas adultas, seguida por novilhas e vacas jovens ou de primeira cria. No entanto, levantamentos atuais revelam que nos Estados Unidos, assim como no Brasil, parece estar ocorrendo uma retração no rebanho devido ao abate de fêmeas. Segundo informações do Departamento de Agricultura Americano (USDA), em 2007, ocorreu um grande de abate de fêmeas naquele país, a taxas não registradas desde a década de 50, o que certamente refletirá nos preços e disponibilidade de animais para confinamento nos anos de 2009 e 2010. Diferentemente dos Estados Unidos, o Uruguai tem apresentado um crescimento médio do rebanho de bovinos de 4% ao ano, com um aumento de 811.402 cabeças de 1999 a 2006. Este crescimento tem sido maior na categoria de novilhos (73,04%), machos adultos (64,31%) e vacas (63,63%). Resultados assim devem-se, principalmente, à melhora anual dos índices produtivos. Os registros do Ministério da Agricultura mostram que o desfrute de fazendas de cria uruguaias, em 2005, foi de 62,8%, índice muito acima da média nacional brasileira. No Brasil, no entanto, quando se trata de estatísticas de abates, as análises não são simples. Acredita-se, por exemplo, que a proporção de fêmeas abatidas no mercado informal seja superior à do abate formal. É por isso que a análise fria dos dados oficiais de abate pode dar a impressão de que a proporção de fêmeas abatidas não seja suficiente para levar ao achatamento do rebanho. A Scot Consultoria estima que, na média dos últimos 10 anos, os abates informais tenham respondido por 41,9% dos abates totais. Os maiores valores estimados foram para 1997/1998, cerca de 48%, com reduções progressivas, chegando a 33,89% em 2007. No ciclo pecuário anterior (2002 a 2006) a taxa média de abates informais de fêmeas situou-se na casa dos 39,83%, 5 pontos percentuais a mais que os registrados em 2007. A somatória dos abates informais, que nos últimos 10 anos, gerou uma redução de quase 15 pontos percentuais pode estar atrelada, principalmente, à expansão e formalização das grandes indústrias frigoríficas. Para finalizar, considerando números formais e informais, a Scot Consultoria estima que a participação do abate de fêmeas em relação ao total tenha chegado a 47% em 2007. Esse número, caso mantido por mais alguns anos, levaria a uma forte retração do rebanho brasileiro ao longo dos próximos anos. O ponto de equilíbrio aparentemente é de um abate de matrizes de 42%. Os números do IBGE indicam que o abate de fêmeas está em retração, mas ele ainda precisa encolher mais, ou seja, precisa vir abaixo dos 42% para que o rebanho volte a crescer de forma consistente. Dessa maneira, se os abates de fêmeas continuarem a ser reduzidos nas mesmas taxas que as observadas nos últimos anos (10%), poderemos dizer que, nos próximos anos, teremos novamente um rebanho em equilíbrio e ai sim poderá estar sendo iniciada uma fase de baixa no mercado do boi gordo.
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