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Scot Consultoria

PODRIDÃO AGRÁRIA


Quarta-feira, 7 de dezembro de 2005 - 11h45

Abrem-se os trabalhos na CPMI da Terra. São ouvidos gestores das entidades que funcionam como linha auxiliar do MST. É grande a expectativa. A quebra do sigilo bancário expôs um sumidouro de recursos públicos. Deputado Abelardo Lupion interpela o Sr. Emerson Rodrigues – O senhor recebeu em seu nome vários cheques emitidos pela Concrab e pela Anca, somando R$318.428,00. Com qual finalidade eram sacados valores tão altos? O primeiro depoente – Reservo-me o direito constitucional de permanecer em silêncio. Deputado Abelardo Lupion pergunta ao Sr. José Trevisol – Eu tenho aqui um cheque no valor de R$501.953,00, assinado pelo Sr., endossado também pelo Sr. e sacado em dinheiro, da conta 123.876. O senhor confirma? O segundo depoente – Reservo-me o direito constitucional de permanecer em silêncio. Deputado Abelardo Lupion questiona o Sr. Francisco Dalchiavon – Como o Sr. explica o fato de a Concrab conseguir celebrar dois convênios com a União em dezembro de 2003, com valor acima de um milhão de reais, apesar de estar inadimplente com a Receita Federal? O terceiro depoente – Invoco o direito constitucional de permanecer calado. E assim, de forma surpreendente, permaneceram de boca fechada os responsáveis pela utilização de R$41,70 milhões, repassados através de convênios, pelo governo federal, às entidades comandadas pelo MST. Nenhuma explicação, nenhuma palavra. Foram consecutivas 127 não-respostas. O miolo do escândalo: o saque na “boca do caixa”, efetuado por laranjas vermelhas, soma R$3.514.349,00. Por que valores tão expressivos foram utilizados através de cheques ao portador? Ninguém respondeu. Conclusão: dinheiro vivo sai dos cofres públicos direto na veia do MST. Aqui reside a desavença política ocorrida, nesses dias, ao se finalizar os trabalhos da CPMI da Terra. As apurações da comissão mostraram uma podridão. Chamados a esclarecer os fatos, os dirigentes sem-terra preferiram a escuridão do silêncio à transparência do verbo. Lamentável. Engana-se quem, ao analisar a votação daquele relatório final, rotular as divergências havidas entre, de um lado, ruralistas conservadores e, de outro, progressistas trabalhadores sem-terra. Erra, mais ainda, quem queira estampar na disputa resquícios do velho embate entre esquerda e direita. Nada disso. É óbvio que, por detrás das eternas brigas envolvendo a reforma agrária brasileira, se escondem posições ideológicas variadas, algumas antagônicas. Mas o cerne da encrenca recente não residiu na ideologia, e sim na Verdade. O debate raivoso e as cenas explícitas da “doença do Aparecido” procuram esconder um submundo deplorável da atual questão agrária. O chamado movimento social vive à custa do cofre público. Convênios destinam-se, no papel, a apoiar ações altruístas como, por exemplo, “curso técnico em saúde comunitária”, que recebeu R$1,17 milhão; ou “fomento da agroecologia em empresas sociais”, que levou R$5,30 milhões. Na prática, alimentam o processo das invasões de terra. Relatório do Tribunal de Contas da União, elaborado após análise de 103 desses convênios, indicou gritantes irregularidades na prestação de contas. Regras elementares da administração pública foram ignoradas. O Tribunal estima que R$18 milhões tenham sido desviados. Um verdadeiro relaxo. Qualquer semelhança não é mera coincidência. A traquinagem do MST funciona com a tradicional tecnologia dos ladrões do dinheiro público. O esquema é semelhante àquele do mensalão. Não se pode afirmar que seus líderes enriqueceram. O delito objetiva o poder, ou a revolução. Configura crime da mesma forma. Por conta disso, a maioria dos parlamentares rejeitou o insosso e tendencioso relatório João Alfredo, militante dos sem-terra. Ele fazia vistas grossas à tramóia. Em seu lugar acabou aprovado o substitutivo Lupion, que indicia os responsáveis e, exageradamente, qualifica as invasões de terra como crime hediondo. Seguiu-se um pampeiro. A Comissão Pastoral da Terra diz que o novo texto consagra a violência no campo. O MST afirma que a comissão curvou-se aos objetivos criminosos e odiosos da UDR. Fazem o conhecido jogo da dissimulação ideológica. O raciocínio polarizado serve para justificar o esconde-esconde da malandragem agrária. Normal. Injustificável é ver jornalistas comprarem barato esse discurso falso. É incrível perceber como a mídia gosta da palavra fácil e do gesto brusco. Querendo ser, talvez, politicamente corretos, assumem a defesa dos “coitadinhos” sem-terra contra os “malfeitores” fazendeiros. Generalizam e informam mal a opinião pública. Lênin atacou o esquerdismo taxando-o como doença infantil do comunismo. Articular alianças políticas para enfrentar a grilagem de terras e promover a regularização fundiária do país é fundamental. A qualidade da reforma agrária brasileira daria um bom debate. Mas essa esquerda que fugiu na reta final da CPMI acusando a todos os parlamentares de assassinos não quer discutir nada a sério. Sabe gritar, rasgar, não construir. É autoritária e covarde. Não há acordo possível com relação à malversação de dinheiro público. O silêncio dos depoentes do MST durante as seções da CPMI selou sua culpa. Não mentiram, foi seu único mérito. Mas quem cala, consente.
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