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Scot Consultoria

Boi, o saco de pancadas


Quinta-feira, 2 de agosto de 2007 - 17h29

O boi está apanhando mais do que mulher de malandro. Os preços estão em alta, mas sua reputação em baixa. É só abrir o jornal, ou dar uma sapeada no noticiário da TV, para ver que o nosso amigo ruminante está na dianteira da corrida pelo posto de inimigo público número 1 da humanidade. O Osama Bin Laden ficou para trás, só o Bush ainda se preocupa com ele. A pecuária de corte, de acordo com seus críticos, estimula o trabalho escravo, destrói florestas e alimenta o efeito estufa. Sabe aquelas cenas de ursos polares, flutuando sobre blocos de gelo desgarrados do continente, que têm sido reprisadas à exaustão na telinha? Culpa do boi. Esse movimento anti-bovino era, no início, sustentado por naturistas e ecologistas, “preocupados” com o sofrimento dos animais e com a destruição das matas. Mas com o fortalecimento das questões relacionadas ao aquecimento global, conquistou a adesão de políticos, cientistas, artistas, jornalistas, etc. Virou moda pregar contra a pecuária. É bonito, chique, “in” e ecologicamente correto. Chega até a dar status. Afinal, “a Amazônia está sendo desmatada pelo gado de hambúrgueres”, disse o ex-Beatle Paul McCartney, em defesa do vegetarianismo. Essa frase foi publicada, com destaque, em tudo que é jornal do planeta. A edição de agosto da revista Galileu, da editora Globo, estampa uma matéria sobre efeito estufa, logicamente apontando a pecuária como a principal vilã do processo, e praticamente ovaciona o garoto Gabriel, de 5 anos, que parou de comer carne vermelha depois que teve aulas de ecologia na escola. Pessoal, isso é no Brasil! Alguém da nossa cadeia produtiva já pensou em checar o que estão ensinando para nossas crianças nas salas de aula? É melhor começarmos a nos preocupar com isso. ARGUMENTOS Quando a coisa descamba para o lado da emoção, deixando para trás o campo da razão, fica difícil contra-argumentar. De toda forma, deixando a minha porção consultor falar mais alto, acho importante fazer aqui algumas colocações: 1. No Brasil não tem boi sem pasto. Nesse sistema, o saldo entre emissão e seqüestro de carbono é positivo em favor do segundo. Ou seja, o que o bovino emite, o capim recolhe. Já nas grandes cidades, o CO2 emitido pelos automóveis não é recolhido, pois não existe vegetação. Portanto, seguindo a lógica de quem defende a extinção da pecuária, podemos iniciar uma campanha para que os humanos voltem a morar em cavernas ou em cima das árvores, passando também a andar a pé; 2. A pecuária está se expandindo através de aplicação de tecnologia, ou seja, está produzindo cada vez mais em menos área. Entre 2001 e 2006, por exemplo, a área de pastagem brasileira encolheu, de acordo com estimativas da Scot Consultoria, 1,5%, ao passo que o rebanho bovino cresceu 15% e a produção de carne 53%. O resultado é a queda da taxa de desmatamento e maior retenção de carbono por parte das pastagens, pois o capim adubado é mais eficiente em recolher CO2; 3. Qualquer cientista ou historiador minimamente sério e competente sabe que uma das razões da espécie humana ter se desenvolvido intelectualmente, se diferenciando dos macacos, foi justamente a incorporação de carne na dieta. Rica em ferro, esse alimento colocou nossa cachola pra funcionar; 4. O agronegócio pecuário gera mais de sete milhões de empregos. O valor bruto da produção de carne bovina no Brasil supera os R$30 bilhões. Só em exportação de carne e couro o país faturou quase R$6 bilhões em 2006. Dá para abrir mão de tudo isso? 5. O boi não produz só carne. O bovino é, na verdade, uma verdadeira fábrica de matéria-prima. Os produtos e subprodutos do abate alimentam indústrias de mais de 40 diferentes setores. Para quem não conhece a que se destina o boi “desmontado”, vale a pena dar uma olhada nesse link: http://www.sic.org.br/praqueserve.asp 6. Por fim, uma questão que muito me intriga: o boi é a única criatura do planeta que arrota e solta pum? Acredito que não. Portanto, abaixo também ao feijão, ao ovo e ao repolho. E também às tartarugas, afinal, como disse outro dia o Scot, elas ficam aí soltando pum por quase 200 anos. Seria cômico, se não fosse trágico. Outro dia, navegando pelos canais de TV, me deparei com um programa de animais de estimação, onde a apresentadora se esgoelava na defesa de uma dieta verde, a fim de impedir o abate de animais. Depois, chamou um dos patrocinadores, que apresentou sua linha de rações para cachorros. No dia seguinte fui ao supermercado e dei uma olhada na embalagem de uma das rações apresentadas. Logicamente estavam citadas lá, na composição, as farinhas de sangue e carne e ossos. Quanta demagogia. É HORA DE AGIR O fato é que os ataques à pecuária, ao bovino e à carne bovina já estão colhendo os primeiros resultados. A mídia é poderosa, vários estudos já comprovaram sua influência na formação do comportamento do consumidor. Não fosse assim, nenhuma empresa investiria em marketing e propaganda. As preocupações da cadeia produtiva da carne bovina, hoje focadas em questões relacionadas a vírus e certificados, têm que se estender também para o campo do desenvolvimento sustentável. E rápido. É preciso estimular pesquisas e adoção de práticas e tecnologias que levem à redução dos impactos ambientais, ao mesmo tempo em que não comprometam os resultados produtivos e econômicos. Muito disso já tem sido feito, mas é preciso deixar isso claro para os consumidores. Afinal, a propaganda é a alma do negócio. Faz-se urgente também organizar um contra-ataque às críticas e acusações infundadas que agridem a atividade. Isso tem que ser feito de forma planejada, cobrindo todos os flancos, principalmente as mídias de massa. Vozes que se levantam aqui e ali, mas que não se avolumam e não se organizam, têm pouco efeito prático. Talvez seja o caso de criar o movimento “EU DEFENDO A PECUÁRIA E A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS”, que conte com o apoio de todos os elos da cadeia na defesa da produção e do consumo de carne bovina. O que não pode é ficar parado, assistindo um festival de besteirol fazer com que a carne vermelha perca espaço, na mesa, para a alface e o rabanete.
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