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Scot Consultoria

Exportações de carne bovina em 2008


Sexta-feira, 14 de dezembro de 2007 - 11h01

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes – ABIEC, o Brasil deverá exportar cerca de 2,50 milhões de toneladas equivalente carcaça de carne bovina este ano, com faturamento de US$4,45 bilhões. Em relação a 2006 tem-se um aumento de 9% em volume e 15% em faturamento. Para 2008 a expectativa é que os embarques alcancem 2,62 milhões de toneladas, com receita entre US$4,89 e US$5,11 bilhões. Em relação a 2007, portanto, espera-se um crescimento de 5% em volume e mais ou menos 12% em receita. O bom desempenho, em termos de faturamento, se justifica pelo aumento dos preços da carne exportada. A economia mundial se expande em ritmo forte, o que mantém a demanda por alimentos aquecida e o mercado firme. Além do mais, os exportadores brasileiros, graças à disparada das cotações do boi gordo, estão sob forte pressão de custos. É natural, portanto, que busquem repassá-la aos compradores. Como o Brasil responde por aproximadamente 33% das exportações mundiais de carne bovina, os frigoríficos nacionais conseguem exercer certa influência na formação dos preços internacionais. Pode-se dizer que no caso da carne vermelha, o Brasil é formador e não tomador de preços. Mas e a expectativa de crescimento de “apenas” 5% para o volume exportado? Pessimista? Conservadora? Na opinião da Scot Consultoria, talvez ela esteja até um pouco otimista. Entre 1999 e 2006, a taxa de crescimento médio das exportações brasileiras de carne bovina, em volume, foi de 23% ao ano. Vale destacar que foi justamente na virada dos anos 90 para os anos 00 que o mercado internacional se abriu para o Brasil, em função de problemas de ordem sanitária enfrentados por importantes exportadores. Como o País vinha fazendo a lição de casa em termos de sanidade, possuía preços competitivos e o respaldo de uma produção em ascensão, ou seja, gozava de um belo excedente exportável, os exportadores brasileiros aproveitaram a chance para conquistar boa parte do planeta. Ao final de 2005, porém, foram registrados focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul e Paraná. Os reflexos foram sentidos em 2006, mas ao contrário do que previam os profetas do apocalipse, as exportações brasileiras estabeleceram um novo recorde. O Brasil, que desde 2004 já era o maior exportador mundial de carne bovina em volume, aumentou a vantagem e passou a ser também o número 1 em faturamento. Foi em 2007, neste ano, que os embarques começaram a perder força. Em relação a 2006, como destacou a ABIEC, um novo recorde ainda será estabelecido. Mas no caso do volume exportado, ele se deve, exclusivamente, ao bom desempenho do primeiro semestre. O segundo, é preciso deixar claro, foi ruim. No que diz respeito às exportações de carne in natura, desde junho os resultados têm ficado abaixo do registrado no mesmo período de 2006. Considerando-se o total, ou seja, in natura + industrializada, as retrações começaram em julho, mas com um recorde que ainda veio a ser registrado em setembro. Acompanhe na tabela 1 Considerando-se o desempenho das exportações de carne in natura, em volume, entre 1999 e 2006, com base numa análise mês a mês, comparando os resultados de um ano em relação ao anterior, nunca antes haviam sido registradas seis retrações, como em 2007 na comparação com 2006. Os “recordes”, até então, estavam com 2002 na comparação com 2001 e 2006 na comparação com 2005 (período em que o Brasil sentia os reflexos dos casos de aftosa), com quatro retrações cada. Portanto, está claro que houve queda de desempenho este ano. Por quê? Primeiro, porque a produção deixou de dar respaldo às exportações, já que os abates diminuíram. E isso, como alguns quiseram fazer crer, não é problema de seca. Sempre o segundo semestre é seco, o anormal seria se ele fosse chuvoso. Esse ano as chuvas vieram com uns 30 dias de atraso, portanto, se o problema fosse falta d’água, haveria retração dos embarques em um único mês, quem sabe em dois, mas não em seis. A questão é de ordem estrutural. Mais de quatro anos de abate de matrizes e redução de investimentos levaram à retração do rebanho. O mercado enxugou e os preços pecuários reagiram, intensificando a dificuldade de aquisição de matéria-prima por parte dos frigoríficos, já que o produtor, agora, voltou a reter matrizes. Entre 1999 e 2006, enquanto as exportações cresceram 23% ao ano, a produção aumentou 7%. Já em 2007, a expectativa é que a produção de carne bovina brasileira recue entre 2% e 3% em relação a 2006, com nova retração em 2008. Segundo, é preciso considerar que os aumentos de preços, lá fora, deixaram de acompanhar o que acontece aqui dentro. Veja na figura 1 uma comparação da evolução das cotações da arroba do boi gordo em SP, da carne bovina no atacado (boi casado) e do preço médio da carne bovina in natura exportada, em dólares. Veja que, entre 2003 e 2006, a valorização do real deu sustentação ao aumento dos preços do boi em dólares, sendo que houve repasse para a carne dentro e fora do país. Já a partir de 2007 o boi começou a subir forte também em reais. No mercado interno, houve repasse, contando com a ajuda da melhoria de renda da população. Já o preço da carne exportada manteve-se firme, mas ficou para trás na corrida com as cotações domésticas. Acompanhe, na tabela 2, as mesmas variações da figura 1, mas agora em termos porcentuais. Em reais, entre janeiro e novembro de 2007, enquanto o preço médio da carne in natura exportada subiu 7%, o preço do boi gordo em SP reagiu 35% e o do boi casado 34%. Essa situação levou alguns exportadores a direcionarem, propositadamente, uma maior parte da produção para o mercado doméstico. Mas além das questões relativas à redução da produção e ao aumento da competitividade do mercado interno, as exportações enfrentam outro grande desafio: as novas ameaças por parte da União Européia (UE). Mediante o não cumprimento de algumas exigências, contando ainda com o aumento da pressão por parte de produtores locais, os europeus estão dispostos a impor novas restrições à carne bovina brasileira. Fora isso, o SISBOV não emplaca. Aliás, enfrenta forte resistência no campo, principalmente após algumas determinações novas, com especial destaque para a que solicita a desclassificação de todo o lote enviado para o gancho, no caso da perda do brinco de apenas um único animal. Isso é o mesmo que pedir para o produtor não rastrear. Vale lembrar que a UE é o principal cliente brasileiro. Responde por 24% das exportações em volume e 35% em faturamento. Com base na expectativa da ABIEC para o fechamento de 2007, pode-se estimar que os europeus absorvam quase 600 mil toneladas equivalente carcaça de carne bovina brasileira este ano, algo em torno de US$1,60 bilhão. Para se ter uma idéia, essas 600 mil toneladas européias equivalem, mais ou menos, a 100% das exportações do Uruguai, a 2,5 milhões de cabeças de 16@, a 100% dos bovinos confinados do Brasil, a algo em torno de 5% a 7% da produção brasileira de carne bovina, e por aí vai. Além do mais, na comparação com os outros dois grandes clientes brasileiros, Rússia e Oriente Médio, os europeus pagam 73% e 60% mais pela tonelada de carne, respectivamente. Se esse mercado se retrair, seja por meio de novas restrições ou do fracasso do SISBOV, as exportações sofrem dois impactos. Primeiro, o da redução da demanda internacional pela carne bovina brasileira (que poderia ser compensada com o aumento das vendas a outros países). Segundo, conseqüência do primeiro, o aumento da atratividade do mercado doméstico, já que as vendas para o importador que paga melhor foram afetadas. Em síntese, não será nada fácil para o Brasil, em 2008, quebrar um novo recorde em termos de volume exportado. Vale destacar, no entanto, que a hegemonia brasileira está muito longe de ser ameaçada. Comparando as exportações brasileiras com a do segundo exportador mundial, a Austrália, salta aos olhos uma margem de 830 mil toneladas equivalente carcaça, a favor do Brasil. Em resumo, entre os dois, tem-se o equivalente ao volume exportado pelo terceiro colocado, que é a Índia. Mas de toda forma, o Brasil deve mesmo perder um pouco de market share (representatividade) no ano que vem. Lógico que, se for para escolher, é muito melhor crescer em faturamento do que em volume. Mas o ideal é conseguir os dois: exportar maior quantidade, para não dar espaço aos concorrentes, e com preços médios mais altos. Talvez em 2008 isso não seja possível.
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