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Quarta-feira, 13 de junho de 2012 - 17h03


A pecuária tem sido constantemente apontada como um importante segmento emissor de Gases do Efeito Estufa (GEE). O processo de fermentação no rumem dos bovinos gera metano, gás que é jogado na atmosfera por meio da flatulência ou eructação do animal. Tradicionalmente, para melhor compreensão dos estudos relativos ao tema, o metano, assim como outros gases de GEE, é convertido para CO2 (carbono) na apresentação dos resultados.


Estudo do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP) indica que apesar de responder por aproximadamente 42% das emissões de GEE do país - desconsiderando queimadas e desmatamentos - a pecuária tem um significativo potencial de sequestro de carbono promovido por meio das pastagens.


No entanto, segundo Rodrigo Paniago, presidente da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável (APPS), relatórios como, por exemplo, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) ignoram esta vantagem de fixação de carbono no solo como um contraponto a emissões baseadas apenas em metano.


De acordo com Paniago, que palestrou nesta segunda-feira (11) na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne (Feicorte), um cálculo mais exato das emissões de GEE da pecuária precisa separar, de modo claro, o que é emitido pelos animais e o que é sequestrado pelas pastagens. Com base no documento do Cepea, ele assinalou que as emissões da pecuária brasileira são da ordem de 1,18 Mg de CO2 equivalente por hectare ao ano.


Todavia, ressaltou que as pastagens sequestram cerca de 1 Mg CO2 equiv./ha/ano, e que os pastos de boa qualidade podem chegar a absorver até 2 Mg CO2 equiv./ha/ano. "Este tipo de informação não é divulgada, não é dita, e a pecuária aparece sempre somente como vilã."


O presidente da APPS lembrou que ao melhorar a qualidades das pastagens, técnicas conservacionistas, como, por exemplo, plantio direto e integração-lavoura-pecuária-floresta (ILPF) acarretam em maior acúmulo - fixação - de CO2 e retenção de água no solo [pasto]. O trabalho do Cepea acentua, ainda, que pastagens mais bem manejadas colaboram para "aumentar o rendimento animal e melhorar o trato digestivo dos bovinos, reduzindo assim a quantidade de gases emitidos por quilo de carne produzida".


Água, área e produtividade


Além da questão da emissão de gases, Paniago chamou a atenção também para erros, que segundo ele, são cometidos nas análises do uso d água pela pecuária. Na opinião do dirigente, associar o consumo d água com a produção de quilo de carne é um conceito equivocado, no mínimo incompleto. Isso porque, disse, o bovino é gerador de matéria-prima para aproximadamente 49 segmentos industriais, que também precisam entrar nesta conta. "Então, o cálculo não pode envolver só a pecuária."


Ao apresentar um panorama da pecuária no Brasil de 1996 a 2006 - baseado em estudo do professor Gerd Sparovek da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) -, Paniago mostrou que rebanhos existentes em novas fronteiras, leia-se, especialmente no Norte do país, têm baixa participação no volume de carne produzida no Brasil. Segundo ele, é fundamental diferenciar o que é "fronteira agrícola de negócio de fronteira".


O que acontece, pontuou, é que muitos dos desmates em regiões como a Amazônia são protagonizados por quem não é ligado à atividade rural, e sim por quem quer simplesmente especular com a terra. O presidente da APPS explica que um indivíduo qualquer desmata, coloca alguns bois para assegurar o direito da terra, mas, na verdade, não toca a atividade de maneira profissional/empresarial.


O problema, salientou, é que ao vender a área, ele acaba repassando o passivo ambiental para quem a comprou de maneira legítima. "Isso macula a imagem do setor. A pecuária de novas fronteiras é consequência do desmate ilegal, não é o agente causador." Ao final, Paniago citou dados da Embrapa Gado de Corte, que demonstram os ganhos de produtividade da pecuária brasileira no intervalo de 40 anos, entre 1970 e 2010. Neste período, a área de pastagem aumentou 23% e o rebanho 215%. Já a produção de carne cresceu 440%.


Fonte: Sou Agro. Por Ronaldo Luiz.



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