• Sexta-feira, 19 de abril de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Difundir a preocupação ambiental é essencial


Segunda-feira, 2 de maio de 2011 - 11h30


Em 28 de março passado, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma extensa reportagem sobre o esvaziamento do MST. Informou que, segundo a Comissão Pastoral da Terra, em 2003 havia 283 acampamentos do movimento no país e que em 2009 apenas 36. Ainda, segundo levantamentos do INCRA, o número de pessoas acampadas passou de 400 mil para menos de 100 mil de 2003 a 2010. Segundo o próprio MST, a principal razão disso é o aumento do número de postos de trabalho, já que a economia do país está hoje em condições muito melhores que há 10 anos. Assim, as pessoas que, desempregadas na cidade, eram atraídas para os acampamentos, iludidas com a perspectiva de obterem “um pedaço de terra”, hoje estão empregadas, usufruindo da infraestrutura urbana e com qualidade de vida infinitamente melhor que nos acampamentos. E em situação muito melhor até que a de muitos assentados. Uma outra razão para a perda de interesse nos acampamentos é o programa Bolsa-Família do governo federal, que possibilita às pessoas sem renda à sobrevivência na cidade, sem submissão às diretivas do movimento. No entanto, esse enfraquecimento do MST não pode ser visto como trégua do movimento, mas como momento de reavaliação para alteração de estratégia. E isso já está em andamento. Como o objetivo da organização não é a reforma agrária (se assim fosse, estaria cobrando do INCRA o assentamento nas inúmeras fazendas já desapropriadas e apoio técnico aos já assentados, e não promovendo mais invasões), mas sim a implantação de um sistema socialista de produção no campo, o que está em curso é uma guerra ideológica contra o agronegócio. Na mesma reportagem citada acima, o jornal publicou uma entrevista com Gilmar Mauro, um dos membros da Coordenação Nacional do MST, da qual transcrevo um trecho bastante emblemático. Diz o entrevistado: “A reforma agrária precisa ser ressignificada (sic), com um debate político. Se continuarmos essa lógica de exportação de commodities, com o uso intensivo de agrotóxicos, em menos de 50 anos teremos contaminado rios, lagos, terra. É o que desejamos? Queremos consumir alimentos contaminados? Se a sociedade responder sim, então não há espaço para reforma. Se disser não, precisamos rever o modelo agrícola atual”. A alegação de improdutividade para invadir terras “não cola mais”. Não há “latifúndios improdutivos” no Brasil. Pelo contrário, o aumento da produtividade da agropecuária brasileira via mecanização e alta tecnologia tem sido fantástico, colocando em alerta os produtores dos países ricos, que temem, com razão, a nossa competitividade. Dessa forma, o MST se volta falsamente para a questão ambiental, outro requisito previsto na Constituição Federal para permitir a desapropriação para reforma agrária. O meio ambiente é preocupação de toda a sociedade e usar essa bandeira para “vender” a reforma agrária pode devolver ao movimento a aceitação da opinião pública, perdida quando a sociedade tomou conhecimento dos crimes cometidos nas invasões de terras. Dessa forma, se faz imperioso que a classe dos produtores rurais se posicione a favor das causas ambientais, cumprindo a legislação ambiental, defendendo as alterações nessas leis também com fundamentos técnicos e não somente econômicos, e principalmente, demonstrando à sociedade como um todo, a sua participação na recuperação e manutenção da qualidade do meio ambiente, já que dele depende inexoravelmente. Será que a sociedade sabe que o Brasil é o país que mais dá destino ecologicamente correto às embalagens vazias de agrotóxicos, com recolhimento de 80% das embalagens usadas? Será que a sociedade sabe que as ONGs internacionais que tanto lutam pela manutenção ou aumento da área de reserva legal no Brasil não se interessam em levantar a bandeira de criação de reserva legal nas propriedades rurais em seus países de origem? Será que a sociedade sabe que apenas 25% da Amazônia é terra particular, sujeita, portanto a desmatamento de acordo com a lei, e que permitir a utilização para produção de 50% das propriedades é permitir um desmatamento de apenas cerca de 12,5% da Amazônia e não de 50% dela? Essas e outras questões têm que ser apresentadas “para fora da porteira”. Não adianta esse conhecimento ficar restrito aos produtores rurais, discutido em fóruns exclusivos dos participantes do agronegócio e limitado à mídia do setor. É preciso que a sociedade como um todo compreenda que o produtor rural não é o vilão do meio ambiente e que o agronegócio não quer a destruição do planeta. Muito pelo contrário, já que a atividade rural, base do agronegócio, depende do meio ambiente. Dessa forma, deve o setor produtivo abraçar verdadeiramente a causa ambiental e mostrar à nação como um todo que o seu envolvimento é real, sob pena de ver o MST manipular a opinião pública, colocando-se contra o agronegócio por ser, supostamente, a favor do meio ambiente.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja