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Scot Consultoria

Balanceamento de dietas: foco nos resultados de análise de sólidos totais do leite (parte 1)


Terça-feira, 31 de agosto de 2010 - 09h50

Engenheiro agrônomo, doutor em produção animal e pesquisador científico/APTA Colina-SP.


A cadeia produtiva do leite vem sofrendo grandes transformações nos últimos anos. Dentre as principais mudanças destaca-se o sistema de pagamento do leite em função da sua qualidade. PAGAMENTO POR QUALIDADE Neste sentido, os programas de pagamento por qualidade, em sua maioria, avaliam os seguintes parâmetros: os teores de gordura e de proteína, a contagem de células somáticas (CCS) e a contagem bacteriana total (CBT). A implementação deste programa causa muitos impactos, principalmente com relação ao diferencial de preço pago ao produtor que pode variar de R$0,08 a R$0,12 por litro de leite. Deste modo, para atender estas exigências, os produtores e os técnicos da área devem entender os conceitos e todos os fatores envolvidos para obtenção do leite com padrões adequados de qualidade. O leite para ser caracterizado como de qualidade superior deve apresentar as seguintes características: sabor agradável, alto valor nutritivo, ausência de agentes patogênicos e contaminantes (antibióticos, pesticidas, adição de água e sujidades), reduzida CCS (contagem de células somáticas) e baixa carga microbiana. O fator nutricional ligado à qualidade do leite refere-se ao seu valor nutritivo, ou seja, sua composição nutricional. O leite contém, em média, de 12,5% a 13,0% de sólidos totais, o restante é água. Desses sólidos totais, em média, 3,5% é de gordura, 4,9% de lactose, 3,6% de proteína, além de vitaminas e minerais. O conhecimento dos fatores que afetam a composição nutricional do leite traz algumas vantagens ao produtor. A componente lactose, por exemplo, praticamente não é afetada pela dieta. Proteína pode ser ligeiramente afetada, mas pelo teor de proteína do leite é possível detectar se a proteína microbiana está sendo produzida em quantidades suficientes e se há suprimento adequado de aminoácidos essenciais para absorção pela glândula mamária. Neste sentido, o manejo alimentar de vacas leiteiras, nas diferentes fases do ciclo lactacional, tem grande importância, pois a nutrição tem influência direta sobre a síntese de sólidos do leite. Sendo assim, a nutrição constitui-se na principal ferramenta do produtor para alterar a composição do leite, podendo responder por até 50% da variação nos teores de proteína e gordura do leite. As modificações em composição do leite conseguidas com o manejo nutricional são rápidas e efetivas. Por exemplo, a simples alteração da relação volumoso:concentrado na ração pode alterar o teor de gordura do leite em mais de 15%. NUTRIÇÃO X QUALIDADE DO LEITE Os nutrientes consumidos pelas vacas leiteiras constituem-se nos precursores, diretos ou indiretos, dos principais componentes sólidos do leite. Os principais substratos extraídos do sangue pela glândula mamária são: glicose, aminoácidos, ácidos graxos e minerais. Em ruminantes, acetato e beta-hidroxibutirato também são substratos importantes. A glicose é o precursor de lactose, ácido cítrico e da maior parte do glicerol, que é um dos componentes da gordura do leite. Todos os aminoácidos essenciais e alguns não-essenciais necessários para a síntese de proteína do leite também são oriundos do sangue. Não há relação simples e direta entre os componentes da dieta e os componentes sintetizados no leite, de forma que, quando se aumenta um nutriente em particular na dieta, não há necessariamente um aumento correspondente na secreção de um componente similar no leite. Por exemplo, o aumento no teor de proteína da dieta, mantendo-se o nível de energia, tem pouco ou nenhum efeito sobre a proteína do leite. Da mesma forma, a adição de gordura à dieta de vacas leiteiras geralmente reduz o teor de gordura do leite. Isso se dá pelas complexas transformações que os alimentos ingeridos sofrem no rúmen, pela influência dos hormônios e pelas restrições fisiológicas e bioquímicas resultantes da forma como os sólidos do leite são sintetizados na glândula mamária. BALANCEAMENTO DE DIETAS VISANDO INCREMENTO DO TEOR DE GORDURA DO LEITE Mudanças no teor de proteína do leite são possíveis pela manipulação da nutrição, mas numa magnitude bem inferior às alterações possíveis no teor de gordura, por uma série de razões. Em primeiro lugar porque a variação natural possível é bem menor, e também porque os fatores dietéticos que influenciam essa variável não são completamente conhecidos. Considera-se a gordura como o componente mais sensível às alterações na dieta, podendo variar em até três unidades percentuais em função de variações da mesma. Os fatores nutricionais que mais afetam o teor de gordura do leite são: o aumento de concentrado na dieta, a quantidade e o tamanho da fibra e a adição de tamponantes e compostos ionóforos na dieta. Em relação às dietas, tem-se que aquelas que produzem uma proporção de ácido acético (65%), de ácido propiônico (20%) e de ácido butírico (15%) permitem níveis normais de gordura no leite. Níveis normais de gordura do leite podem ser obtidos se a dieta apresentar 50% ou mais de forragem, contendo 28% de FDN e 21% de FDA. Dietas com 60% a 65% de forragem, com valores superiores a 28% de FDN, permitem leite com mais gordura. Por outro lado, dietas com menos de 50% de forragem resultam em diminuição no conteúdo de gordura do leite. O nível mínimo de FDN de 26% da dieta, ou seja, 1,0% a 1,5% do peso corporal como forragem (% MS), ajuda na ruminação e, consequentemente na produção de ácido acético, resultando em aumento no conteúdo de gordura do leite. A composição do concentrado tem efeito sobre os teores de gordura do leite. O milho grão deve ser limitado a 50% do concentrado, ou 35% da dieta total. É importante salientar que a proporção de grãos e concentrados na dieta depende da qualidade da forragem. Assim, fontes de fibra de alta degradabilidade, como polpa cítrica e casca de soja, podem aumentar a gordura do leite. E os carboidratos não estruturais (amido, pectina, galactanas, beta glucanas, açúcares de cadeia curta) não devem exceder 35% da dieta total. Os níveis de proteína da dieta têm influencia marcante sobre a composição do leite. Dessa forma têm-se as seguintes considerações: - Teores de PB acima de 15% podem aumentar os teores de gordura do leite; - Teores de PB entre 16 e 18% podem aumentar os teores de gordura e a produção de leite. A utilização de substâncias tamponantes, que objetivam ajustar o pH do rúmen, é uma técnica eficiente para melhorar a produção de ácido acético no rúmen. O uso de bicarbonato de sódio e/ou óxido de magnésio podem ajudar a corrigir os problemas das dietas com quantidades inadequadas de forragem; Bicarbonato, 1% a 1,2% da dieta, pode implicar em problemas de palatabilidade. A adição de gordura na dieta como fonte de energia pode alterar a composição do leite. O uso da gordura diminuiu a gordura do leite, não devendo exceder 6% a 7% de gordura na dieta (% na matéria seca); O fornecimento de caroço de algodão (integral) e gordura não degradável no rúmen aumenta a gordura do leite, enquanto a adição de óleos vegetais e a soja integral diminuem esses valores. Em relação à nutrição, podem-se estabelecer algumas recomendações que propiciem aumento nos teores de gordura do leite: - Manter pelo menos 26% de FDN na dieta total; - Considerar que 75% do FDN deve ser proveniente de forragem de alta qualidade; - Fornecer concentrado misturado com a forragem sempre que possível; - Permitir que as vacas se alimentem várias vezes ao dia; - Não picar os volumosos em partículas menores do que 1,0 cm; - Evitar fornecer grãos finamente moídos ou peletizados; - Permitir o acesso à água e alimentos com um espaço do cocho adequado. A segunda parte deste artigo, abordará o balanceamento de dietas visando incremento do TEOR PROTÉICO do leite. Além disso, serão feitas as considerações finais a respeito das práticas de alimentação e de manejo que podem maximizar a produção de leite corrigido para sólidos totais.
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