• Quinta-feira, 28 de março de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Cota Hilton


Segunda-feira, 5 de janeiro de 2009 - 18h25

Engenheira Agrônoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.


por Elmeson Ferreira de Jesus O agronegócio tem ocupado posição de destaque, com participação cada vez mais crescente na economia brasileira. Mesmo atualmente, no período de baixo crescimento econômico, contribui com a expansão do PIB brasileiro. Em 2006, o rebanho nacional atingiu 205,9 milhões de cabeças, representando uma redução de 0,6% na comparação com o número efetivo do ano de 2005 (207,1 milhões). O Brasil possui o segundo maior rebanho do mundo, depois da Índia. Contudo, em relação ao rebanho comercial, o rebanho nacional é o maior do mundo (IBGE). A cota Hilton surgiu através de um acordo comercial concedido nas Negociações Multilaterais Comerciais do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), no ano de 1979, realizada em um dos hotéis da cadeia norte-americana Hilton, justificando, assim o seu. Quando a rede hoteleira foi instalada na Europa na década de 50, o propósito inicial era servir, em suas unidades, cortes de carne bovina com o mesmo padrão que servia nos Estados Unidos. Desde então, a União Européia resolveu atribuir uma cota para realizar exportações de cortes bovinos. A cota Hilton compreende uma determinada quantidade de carne bovina fresca ou resfriada, sem osso e com alto padrão de qualidade, destinada à exportação para a UE. Essa exportação é concedida anualmente a países produtores e exportadores de carnes. Dentre eles estão credenciados: Brasil, Argentina, Uruguai, Austrália, Nova Zelândia, EUA e o Canadá. Do ponto de vista técnico, os cortes para essa finalidade são oriundos de animais com idade compreendida entre 22 e 24 meses, que possuem apenas dois dentes incisivos permanentes, são alimentados exclusivamente a pasto e o peso de abate não pode ultrapassar 460 kg. Os cortes são classificados como de qualidade especial ou boa, denominados cortes bovinos especiais e que são autorizados a levar a marca “SC” (Special Cuts). Os sete cortes de carne bovina que integram a cota são: bife angosto, cuadril, lomo, nalda, bola de lomo, quadrada e peceto. Além dos cortes especiais que o Brasil exporta para UE dentro da Cota Hilton, existem outros cortes nobres do boi gordo, que são normalmente destinados ao consumo em restaurantes e redes de hotéis europeus. Apesar do baixo volume de exportação, os preços praticados para cortes Hilton são bem superiores quando comparados aos demais cortes resfriados e congelados, exportados no extra cota para a União Européia e até mesmo para outros países. As exportações dos cortes Hilton devem ser acompanhadas de um “certificado de autenticidade”, que é emitido pela autoridade competente do país. O rendimento dos cortes Hilton pode chegar a mais de 50%, quando comparado com os extra cota. Isso ocorre devido a um fator importante na exportação de carne desta magnitude, que é a taxa de importação reduzida a uma margem de 20%. Conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), as exportações de carne bovina cresceram 33,8% em outubro, em comparação com o ano anterior, atingindo US$549,5 milhões. O volume embarcado, no entanto, recuou 7,2% (124,5 mil toneladas) em comparação com 2007. O resultado da exportação, de janeiro a setembro de 2008 pode ser observado na tabela 1. Atualmente, a cota é de 5 mil toneladas, podendo ser ampliada para 47,5 mil toneladas, segundo sugerido pela própria UE, na rodada de negociações com o Mercosul. É importante salientar, que no Brasil, pouco se evoluiu na temática rastreabilidade. Portanto, não há condições de atender a uma demanda de 5 mil toneladas e, no presente momento, não há condições de atender nem a um possível aumento na cota. O grande problema para o Brasil cumprir a cota é a própria UE que impõe restrições à carne brasileira, as quais foram observadas no começo do ano e que foi relacionada à rastreabilidade. Portanto, apenas uma lista restrita de propriedades certificadas pode fornecer animais para o abate. O volume concedido para ser embarcado com imposto reduzido era de 5 mil toneladas, mas os frigoríficos brasileiros não conseguiram atender a demanda exportando aproximadamente 2,7 mil. Como os exportadores brasileiros já haviam previsto que não seria cumprida a cota Hilton, sugeriram a possibilidade de pedir à União Européia que transferisse o volume que não foi vendido dentro do ano fiscal 2007/2008, para o período 2008/2009 que se iniciou no dia 1º de junho. Caso semelhante aconteceu com a Argentina em 2002 quando o país teve suas exportações de carne suspensas para União Européia devido à aftosa e foi permitida a transferência da cota para o ano seguinte. Atualmente, a Argentina é o país que tem maior cota, com 28.000 toneladas anuais, o que representa cerca da metade de toda cota que a Europa importa. Com a venda de frigoríficos argentinos para empresas estrangeiras, sendo a maioria brasileiras, cerca de 40% da cota Hilton está concentrada nas mãos estrangeiras, recebendo assim um subsídio de US$70 milhões anuais. Por esse motivo, os frigoríficos argentinos reclamaram e, assim, o governo criou um projeto de lei que limita o acesso à cota Hilton, destinando-a somente a empresas de capital nacional e que tem como objetivo principal, deixar o capital em mãos dos próprios argentinos. O Brasil tem a necessidade de investir na formação de técnicos capacitados, para que seja apto a concorrer, em termos de qualidade da carne, com os demais países exportadores. Acredita-se que somente assim, trabalhando com seriedade na rastreabilidade, poderemos ser mais competitivos e, por conseguinte, atender às exigências do mercado externo e, também, do consumidor. Com o pagamento diferenciado da cota Hilton, o produtor poderá ficar atento ao mercado com um produto mais competitivo e de melhor qualidade. Bibliografia EUCLIDES FILHO, K. Carne bovina, competição global e mercado doméstico. Visão agrícola, Piracicaba: ESALQ/USP, n.3 – Bovinos, p.4-7, 2005. FELÍCIO, P.E. de. O Brasil precisa de uma entidade de padronização da carne bovina. Revista ABCZ, Uberaba, Ano 5, n.25, p. 200-201, mar./abr. 2005. http://www.beefpoint.com.br. Acesso no dia 21 de novembro 2008. http://www.oncca.gov.ar. Acesso no dia 20 de novembro 2008. http://www.sulrural.com.br. Acesso no dia 26 de novembro 2008. http://abiec.com.br/tabela.asp?id_periodo=7. Acesso no dia 25 de novembro 2008. Http://www.pecuaria.com.br/info.php?ver=3619. Acesso no dia 20 de novembro 2008. http://www.pecuaria.com.br/search.php. Acesso no dia 25 de novembro 2008. http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=1053. Acesso em 04 de dezembro de 2008. Elmeson Ferreira de Jesus - graduando em Medicina Veterinária na UNIMESP. Andrea Brasil Vieira José - Engenheira Agrônoma e Doutora pela ESALQ-USP, Coordenadora de Projetos Boviplan Consultoria.
<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja